Enquanto houver limoeiros - Zoulfa Katouh

Olá Pockets!!! tudo bem? como prometido, viemos trazer mais uma resenha da parceira Verus Editora pra vocês!!! a obra da vez é "Enquanto houver limoeiros" e nossa, que história, uma gama de emoções que a autora Zoulfa Katouh nos traz em seu romance de estreia!!! vem com a gente!

O tema central do livro é a guerra da Síria, que foi instaurada em 2011. A autora usa fatos reais e um pouco de liberdade criativa para mover fatos e encaixar em sua história, mas isso nem é percebido pela densidade do cenário que ela cria em volta da situação de seu País. Conhecemos essa realidade pela ótica de Salama, uma jovem que vivia uma vida normal pelos padrões de sua cultura, estava cursando farmácia na universidade, e teve que se transformar em cirurgiã quando a ditadura cravou as garras no território. 

Na luta incansável para salvar vidas e lutar pela liberdade, ela é atormentada pela entidade Khawf, que faz de tudo para a manter segura e a motiva a sair do País e salvar sua pele, ao invés de salvar seus conterrâneos no hospital, usando do seu passado, a perda de seus pais e seu irmão Hamza na revolução, além de lapsos de um futuro horripilante, caso ela não siga seus conselhos e ordens. O único porto seguro que ainda lhe resta é sua irmã grávida Layla, que a faz manter a promessa feita para Hamza de a proteger. 

Confesso que o interesse no livro se deu especificamente por conta desta relação entre ela e a entidade, mas Zoulfa escreve tão bem, usa uma habilidade poética impressionante, e apaixonante, para falar dos costumes de sua cultura, dos ritos de sua crença, da culinária e até dos eventos trágicos, que é impossível não mergulhar fundo na narrativa. 

A maneira que ela utiliza palavras para demonstrar a tristeza que ao mesmo tempo é poética, faz a gente sentir de perto o que esse povo passou (e está passando) em sua região, dentre os inúmeros momentos de impacto, mesclar uma citação de corpos de um bombardeio e ao mesmo tempo tratar eles como "sendo seus filhos" na tentativa de salvá-los é de se emocionar.

E para quem acha que é só essa realidade que a autora passa no livro, não se engane, seu primor narrativo nos revela a beleza do lugar, mesmo com "tudo cinza" há cores, há felicidade, e esses fios de esperança ela nos remete em sua paixão pelo jovem Kenam, um ativista revolucionário que ama seu País e jura defendê-lo do jeito que pode, com sua câmera, e é o grande conflito que faz Salama tremer e duvidar se sair do país e com isso, abandonar o seu amor, é uma decisão correta. 

Ah, e não posso deixar de mencionar a poesia que retrata a natureza, e é dessa poesia que surge a relação da Síria com o título do livro, as pessoas são os limões, que dão sabor e vida ao lugar, enquanto houver limoeiros, a Síria não deixará de existir.